quinta-feira, 18 de março de 2010

Proposta 1 - o resultado final.


A proposta 1 surge como uma forma de entendermos que “os elementos visuais constituem a substância básica daquilo que vemos (…): o ponto, a linha, a forma, a direcção, o tom, a cor, a textura, a dimensão, a escala, o movimento…” (DONDIS, 1991). Mais ainda do que imaginava. Cada ponto, linha, cor, textura, tom… tem uma linguagem própria que aprendemos a saber interpretar.
No entanto, nem sempre é fácil transmitir as mensagens que apreendemos. Muito menos quando somos limitados no uso dos elementos figurativos. Aí reside a genialidade da composição – o saber mostrar sem mostrar nada em concreto. O “conseguir que os outros vejam aquilo que nós vimos” num conjunto de elementos básicos.
Uma das minhas maiores dificuldades foi realmente abstrair-me do figurativo, da letra da música, e concentrar-me no ritmo, na linguagem sonora, visual e emotiva.
Para esta primeira composição, optei então pela música ‘Bubbles’ de Biffy Clyro. Esta opção baseou-se não só pelo meu gosto pessoal pela música, mas pelo ritmo (que sempre me despertou curiosidade) e pelo facto de me recordar de momentos da minha própria vida.
Talvez por isso mesmo tenha escolhido como elemento principal uma foto minha, num desses precisos momentos, como principal e único elemento figurativo da composição – ainda que a tenha alterado para parecer constituída por pontos, cor e linhas.
‘Bubbles’ é uma música de contrastes. Apesar do ritmo da música ser alegre, bem-disposto, e até com uma pitadinha de inocente, a letra fala de uma ruptura, de pecado e de um lado ‘negro’. A própria sonoridade muda, quando muda a realidade cantada. Cria uma repetição de dois sons contrastantes entre si.
Estes dois sons surgem representados na espiral amarela, que para além de, por causa da cor, representar a luz em oposto ao negro do aqueduto; ainda representa a repetição, o ‘andar em volta’, o ‘expandir e contrair’ das sonoridades da música. Porque “As forças direccionais curvas têm significados associados à abrangência, à repetição” (DONDIS, 1991).
Esta surge ainda no lado da cor porque representa o ritmo, a combinação de sonoridades e, em contraste com a letra, são estes últimos que ‘dão cor’ à música.
Desta forma, para começar a composição, comecei por dividir a tela em duas partes: a primeira representando a sonoridade e a parte da letras que representam alguma alegria ou serenidade e a segunda representando a parte ‘negra’ retratada na letra e na música mais violenta.
“A cor oferece um vocabulário enorme e de grande utilidade para o alfabetismo visual” (DONDIS, 1991) e, por isso mesmo, não me foi difícil associar cores às emoções.
A primeira foi pintada de verde, azul clarinho e amarelo – as cores que desde logo associei aos estados de espírito que descrevi. “ O azul é passivo e suave (…) o amarelo tende a expandir-se” (DONDIS, 1991) – (esta última foi uma das razões pelas quais a espiral acabou por ser amarela).
A segunda, foi pintada de negro, azul-escuro e cinzento – as cores que associei a palavras e expressões como ‘down by the river’ ou ‘wash away your sins’ presentes na letra, pela conectividade negativa e ‘escura’.
Esta divisão foi feita na diagonal precisamente pela instabilidade e pela sensação de desnorte que representa esta linha, porque nas artes visuais “a linha é o meio indispensável para tornar visível o que ainda não pode ser visto, por existir apenas na imaginação” (DONDIS, 1991) e “a direcção diagonal tem referência directa com a instabilidade, (…) é a força direccional mais instável, (…) mais provocadora”.
É que pelo facto de serem dois lados diferentes e contraditórios entre si, sentem-se atraídos um pelo outro. Isto sente-se na letra e na conexão presente na mudança de ritmos – parece o mesmo que de repente se altera – não é brusco, mas é rápido. E mal se nota.
E sendo que a linha “reflecte a intenção do artista, os seus sentimentos e emoções mais pessoais, e mais importante que tudo, a sua visão” (DONDIS, 1991), não existe uma linha férrea, mas uma linha esbatida, como se esta divisão entre ambos vá acabar por ruir.
Para representar esta cisão que, no entanto, não deixa de ter as suas ‘recaídas’, coloquei uma linha verde cravejada de nós por cima da linha diagonal esbatida. Cada nó representa uma ‘abertura remendada’ nesta divisão. É verdade, porque ambos os lados, representados por ‘ele’ e ‘ela’, como se fossem o céu e o inferno, estão ligados entre si pela sua própria natureza (razão de ter escolhido a cor verde). Não vivem um sem o outro.
‘Ela cria bolas’, ‘ele persegue-as para sempre’.
Este conflito, esta tensão, esta dependência são cravejados nos triângulos de pontos que representam a música melhor que qualquer elemento. “Aos triângulos se associam acção, conflito, tensão” (DONDIS, 1991).
Mas não se fica por aqui… Os triângulos parecem agradáveis à vista – como a música – e são verdes, cor da natureza – o que os torna ainda mais agradáveis – e representam precisamente um conflito, como o ‘triângulo amoroso’ (que tantas vezes ouvimos falar) ou o tema de que a música fala.
Para além disso, são feitos de pontos – o ponto é o elemento central da composição – e é precisamente nesta contenda que se centra toda a música – contenda entre letra, ritmos e sons. “Quando fazemos uma marca, seja com tinta, com uma substância dura ou com um bastão, pensamos nesse elemento visual como um ponto de referência” (DONDIS, 1991).
Nesta composição tentei ainda imprimir esta ideia de contraste de sentimentos, de insólito, de instabilidade que a música implica.
Um exemplo disto, é que apesar de as bolas de sabão serem na realidade tão efémeras, na música são impossíveis de rebentar. Por isso mesmo representei as bolas primeiro como férreas, e depois como permanentes, sobrevivendo mesmo à corrente do rio.
Outro exemplo é o aqueduto de quadrados e borrões. Os quadrados representam a ‘honestidade ou rectidão’ – neste caso, representam precisamente o contrário – razão pela qual são tão irregulares e inconstantes. “A irregularidade, enquanto estratégia de design, enfatiza o inesperado e o insólito” (DONDIS, 1991).
Os borrões ajudam a este entendimento e a completar a ideia de troca de significados.
Em toda a composição dispensei linhas rigorosas, demasiado rectas ou até mesmo muito direitas, precisamente pelo facto de não existir qualquer estabilidade quer na música quer na história que é contada. A divisão simétrica da tela e das cores é quase uma necessidade, de modo a impor alguma organização nos elementos.
E por ser contada uma história, um conto ou mesmo uma fábula - quer a nível dos sons quer a nível das palavras - decidi aplicar uma película, que representa isso mesmo.
E como personagens principais, temos as bolas de sabão – as quais destaquei pelo exagero de tamanho –, e a figura da mulher – que destaquei não só pelo exagero de tamanho mas também pela opacidade em relação à restante composição.

terça-feira, 16 de março de 2010

Proposta 1 - a realização.

Para levar a cabo este trabalho, preferi fazê-lo manualmente. Dispensei, portanto, qualquer tecnologia. Pelo menos no início.
Tomei esta decisão porque queria tirar partido das texturas tácteis e da minha própria liberdade criativa.
Assim, comecei por pensar que tipo de composição pretendia e que tipo de materias a utilizar.
Optei pela tela e pelos acrílicos, pelos pincéis e pela mistura irreverente de cores.
Pintei sem qualquer objectivo, indisciplinadamente, até criar a divisão diagonal da tela em claro e escuro. Essa era a interpretação mais primária que eu tinha da música.
A partir daí, os elementos foram surgindo. 
À medida que vamos lendo e relendo sobre design e à medida que ouvimos a música vezes sem conta e nos abstraímos das palavras, a ideia forma-se.

Este foi o resultado 'manual', sem qualquer edição posterior.


Por fim, quando fotografei a imagem de modo a passar para digital, optei por melhorar as bolas de sabão. 
Criei uma nova textura, ainda que a ideia original de as tornar 'metálicas' se tenha mantido.

O resultado 'digital', depois da edição.


Falta ainda a adaptação em Freehand às medias correctas.

Proposta 1 - exemplos.

Na aula, falámos na questão de nos inspirarmos com outros autores que fazem a sua arte baseando-se precisamente nos elementos mais básicos da comunicação.

Eu aproveitei para ver alguns exemplos de Kandinsky, um dos meu pintores favoritos. E Klimt, para perceber esta representação de uma forma diferente, mais 'figurativa'.

O meu preferido.

Olhar para as obras de Kandinsky, tão simples mas tão fascinantes, faz pensar que é fácil. Dele retirei o insólito e a distorção.

E Klimt.

Klimt é de uma subtileza impressionante. Dele retirei o simples.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Proposta 1 - inspiração.

Algumas das ditas fotos...
















(que me serviram - umas sim e outras não - de inspiração).

Proposta 1 - a escolha.

Depois de muitas opções, ainda que sem variar muito nem o estilo nem as bandas, fiz a minha escolha.
Foi difícil.
Mas parece-me bem.

Bubbles - Biffy Clyro


Isto é o que me vem à cabeça:
inocência
boa-disposição
fables
história
Hansel & Gretel
verde erva
bubbles
pop them all the time
azul claro
morning
see
sins
sinner
girl
creepy world
preto
cinzento
contraste
espiral
roda
instabilidade

Proposta 1 - o início.

Para atingirmos os objectivos da proposta 1, teríamos que fazer uma composição com elementos básicos da comunicação visual - a linha, o ponto, a cor, a textura... - com base numa música escolhida por nós. Uma música que nos transmitisse algo que pudéssemos transcrever para a obra.
Para percebemos a importância destes elementos, e chegarmos à conclusão de que eles estão presentes nas coisas mais simples do nosso quotidiano, deveríamos fazer uma recolha de fotos e imagens que exemplificassem isso mesmo.
Devido ao gosto pela fotografia, parti rumo à descoberta... quer em arquivos antigos quer pelas ruas do Porto... e do meu apartamento.