quarta-feira, 14 de abril de 2010

Proposta 2 - os textos.

Alberto Caeiro

Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida que isso!


Alberto Caeiro é um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento.
Constrói uma poesia de sensações, apreciando-as como boas para serem naturais. Para ele, o pensamento apenas falsifica o que os sentidos captam. É um sensacionista que vive aderindo espontaneamente às coisas e procura gozá-las com preocupada e alegre sensualidade.
Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial importância ao acto de ver.
Passeando e observando o Mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da natureza. Ele ama a natureza.
São poemas que, num tom moderado, advogam uma síntese de calma e de movimento num presente que se actualiza e objectiva o desacordo entre o que se pensa e a vida acontece.
O ”puro sentir”, nomeadamente através da visão, constitui a verdadeira vida para Caeiro, que saúda o breve e transitório, pois na Natureza tudo muda.
Alberto Caeiro é o poeta da simplicidade completa e da clareza total. Este não se preocupa com o trabalho formal do poema. Dá primazia ao verso livre e à métrica irregular.


Álvaro de Campos
 
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Orte espasmo retido dos maquinismos em fúria!

Álvaro de Campos surge quando “sente um impulso para escrever”.
Para Campos a sensação é tudo. O sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a base da arte. É quem melhor procura a totalização das sensações, “sentir tudo de todas as maneiras”.
Há a vontade de ultrapassar o próprio limite de todas as sensações, numa vertigem insaciável.
Depois de exaltar a beleza da força e da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida, a poesia de Campos revela um pessimismo agónico, a dissolução do eu, a angústia existencial e uma nostalgia da infância perdida.
A sua procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante
É o mais moderno dos heterónimos de Fernando Pessoa. O seu drama caracteriza-se por um apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade, uma frustração total feita Ade incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior.
Numa linguagem em estilo torrencial, nervoso e exuberante, com marcas de oralidade, expressa o mundo do progresso técnico.
É na máquina irracional e exterior, que se projectam os sonhos e desejos do poeta.
Campos busca exprimir a energia ou a força que se manifesta na vida.



Ricardo Reis
 
Ser-me-ás suave á memória lembrando-te assim,
pagã triste e com flores no regaço!
 
Ricardo Reis é um dos três heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em 1912 quando lhe veio à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Nasceu no Porto, estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se espontaneamente desde 1919, indo viver no Brasil. Era latinista por formação clássica e semi-helenista por auto didactismo. Na sua biografia não consta a sua morte.
Reis, também discípulo de Caeiro, admira a serenidade e a calma com que este encara a vida, por isso, inspirado pela clareza, pelo equilíbrio e ordem do seu espírito clássico greco-latino, procura atingir a paz e o equilíbrio sem sofrer, através da autodisciplina.
A sua poesia é constituída por muitas alusões mitológicas, com uma linguagem culta e precisa, sem qualquer espontaneidade.
Defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
Está sempre presente a tentativa de iludir o sofrimento resultante da consciência aguda da precariedade da vida, do fluir contínuo do tempo e da fatalidade da morte, através do sorriso, do vinho e das flores.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.



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